13.5.07

Der Kopfschmerz

Antes de começar a tremer, encostei a cabeça ao vidro (que chorava lágrimas grossas) e olhei para a cidade. Chovia a cântaros e, apesar de ter levado chapéu de chuva, cheguei à estação como se tivesse mergulhado vestida numa piscina cheia. A razão para não abrir o chapéu não foi outra senão a de que se fizesse outro movimento que não fosse o de caminhar em frente, com os passos sincronizados com a respiração e o olhar posto no chão, se abrandasse o passo para abrir a mala e tirar o chapéu e fechar a mala e abrir o chapéu e voltar a andar ao ritmo normal, teria de me apoiar a uma parede e vomitar o jantar que acabava de pagar, com gorjeta e tudo. A dor de cabeça havia começado leve ao princípio da tarde e aumentado com o passar das horas e a força das bátegas da chuva. Agora que a noite se aproximava e chovia com mais raiva, a minha cabeça parecia que ia explodir, não só a cabeça, mas todo o corpo, eu era a minha cabeça que era a minha dor. Uma dor de cabeça a tentar apanhar o comboio para casa, uma dor de cabeça imensa a atravessar a Warschauer Strasse lavada pela água de deus, os meus pecados que escorriam pela cara e molhavam o casaco e molhavam as calças e molhavam as botas. Quando chegar a casa torço tudo para a banheira, fecho a porta da casa-de-banho, os pecados escorrem pelo cano durante a noite e no outro dia sou a Virgem Maria...
A noite começava, assim, como um dia que acaba triste. O céu era uma faixa amarela com a ponta descosida por onde o sol espreitava e cujos raios batiam nas gruas, o sol nas gruas, não o vento (não havia vento), o sol nos prédios, as janelas dos prédios que reflectiam um brilho de Outono despropositado, a cidade com a torre da televisão imponente envolta no que parecia um nevoeiro amarelo com um arco-íris como laço de embrulho. A luz era magnífica. A fotografia seria perfeita. Um momento National Geographic urbano. Só me irritava ser sábado à noite. Com tantos dias livres para ser, não ter, ser uma dor de cabeça. Foi então que alguém me perguntou se me sentia bem, que estava tão branca...

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