1.5.07

Berlinenses IV

O americano

Dizia que todas as alemãs tinham cara de cavalo. Perguntei-lhe que cara tinham os alemães e disse-me logo que não era gay. Que mania esta dos homens acharem que a sua masculinidade se mede pelo facto de repararem menos ou mais nos outros homens. Claro que todos os homens conseguem dizer se outro é bem-parecido ou não (bem-parecido é, realmente, uma boa escolha de palavras). Não querem é admitir. Isto é uma das coisas que faço questão de testar logo no primeiro date, caso haja um date digno do nome, sem sexo antes ou conversas sobre literatura. Caso se proporcione: ah e tal, acha-lo bonito? Não sei porquê, é uma tara que tenho. Homem que esteja seguro da sua masculinidade (?) e que não olhe para mim de esguela porque não disse achase-o bonito, ganha logo dois pontos. Mas com este nunca houve date nenhum. Tinha uns olhos bonitos, sim senhores, uns lábios carnudos, sim senhores, uns peitorais magníficos, sim senhores, e tudo aquilo, sim senhores, que uma mulher gosta de se gabar às amigas, sim, porque nós também nos gabamos, meus senhores, mas a verdade é que o americano ficou marcado desde o início porque falou mal de Portugal. C'a ganda chico esperto, querem lá ver que nos Estados Unidos não há mendigos a dormir à porta do metro? Ah, ok, no Texas os caubóis são gente fina. Então e tu votaste no Bush ou quê? É engraçado, todos os americanos que conheço dizem que não votaram no Bush, mas o certo é que o gajo foi eleito, não uma, mas duas vezes. Se calhar por isso é que bazaram. Eu também bazava do meu país se tivesse um presidente tão burro. Er...
Adiante.
Ficámos bons colegas não sei como. Acho que deve ter sido por causa do olho azul. E pelo facto de o gajo ter arranjado uma namorada alemã que até era porreirinha, mas, coitada, tinha cara de cavalo. É claro que eu nunca lhe disse nada. Deixai-o ruminar as próprias palavras.
Quando se foi embora (já não era sem tempo, homem, que passavas a vida a falar mal de Berlim), veio-se despedir de mim. Um querido, um querido. Depois mandou-me um mail (ainda mais querido) a dizer que tinha saudades e nessa altura percebi que se tinha germanizado, apesar de todos os esforços na direcção contrária. Todos os alemães são do estilo só-no-fim-é-que-é-bom. Como nos concertos. Ficam para ali macambúzios, eu quase a pedir desculpa por gostar de saltitar e cantarolar as músicas, e só no encore é que se passam dos carretos e fazem um escarcéu como se a sua vida dependesse da banda voltar a pisar o palco. Toda a gente sabe que bater palmas para o primeiro encore é totalmente desnecessário. Bom, desde que não sejam os Artic Monkeys.

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