31.5.07

Bacalhau com natas


Em Portugal não dá para matar saudades com jantares de bacalhau em casas ocupadas repletas de galegos com alma de tripeiros que falam português como os da nossa terra. Em Portugal não há grande forma de matar saudades, porque só se pode ter saudades daquilo que se tem quando o que se tem não é o que se esperava.
Quando conseguimos finalmente encontrar a Cozinha do Povo na Rauchhaus (casa do fumo), já não havia bacalhau. O meu ar de pânico - e dão-me um prato sem reluctância, desculpando-me com as saudades que me correm nas veias e falando-me com xis adocicados. Nem por um momento me passa pela cabeça que possam ser espanhóis. Seguro o prato até a coisa ficar fria, como se esperasse que me dessem autorização para atacar e como tudo em duas vezes com a paixão de quem tem sexo pela segunda vez com a mesma pessoa. Porque a primeira só serve para aguçar o apetite e a segunda muitas vezes precisa de ser demolhada nas águas do tempo. Que é como quem diz: “Avisa-me só se te apaixonares entretanto. O resto guarda-o para ti.” E isto não quer dizer nada, apenas que a vida são dois dias e a noite só uma. A frase não é minha, mas agora lembrei-me de que, nas recentes arrumações ao meu quarto de miúda crescida, não cheguei a tirar da parede a caricatura que uma vez me desenharam. Foi no Algarve e eu tinha 17 anos.

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