21.4.07

Conversas com Beckett


Então e diz-me lá, com que frequência é que te masturbas?
Se um homem e uma mulher podem ser amigos depois de terem tido sexo? Claro que podem. Não exactamente logo a seguir (e porque não?), talvez por ainda se deixarem confundir pelos orgasmos um do outro, mas depois de algum tempo, quiçá meses, quiçá anos, o tempo necessário para que ambos cresçam a cada reencontro (sem sexo), a cada conversa sussurrada num bar qualquer onde um copo de vinho custa 6 euros e a empregada é portuguesa, mas isso só soubemos quando pronunciou, com sílabas cristalinas, uma perfeição no ritmo, uma ausência de qualquer coisa que se assemelhe a sotaque, o nome do vinho, cujo preço também só soubemos quando já era tarde demais (será que se o vomitar, me devolvem o dinheiro?). Podem ser amigos, claro que podem, só não podem ser mais do que isso porque depois de sexo e amizade já não há barreira que se transponha, o limite está nas paredes vermelhas que nos escutam, na vela que se apaga e nos cigarros que não se acendem porque sem vela não há lume e, além disso, tu não fumas e eu estou a tentar deixar.
Eu não te vou contar isso.
Vá lá, se contares, conto-te também sobre mim.
É uma pena que assim não seja sempre. Duas pessoas que, a uma dada altura, fosse por que motivos fossem, partilharam os corpos e os gemidos, a cama desarranjada (e porque tem de ser na cama?), e que depois se afastam, é como se perdessem algo de si mesmas, uma parte, um período da vida, nem que tenha sido só uma noite, mesmo que seja raro ser só uma noite (quantas noites?). Por isso saio tanto com ele, não porque ainda espere que me pergunte
Queres passar lá por casa?
porque pergunta, eu é que lhe digo sempre que não, já não, agora não, mas não me ofendo, já não, as minhas reacções estão a suavizar com o passar dos anos, pelo menos agora já não trato mal ninguém. Haveria outra maneira, a maneira mais fácil, perdê-lo antes de o perder totalmente, como esvaziar a lixeira do computador sem esperar que ele o faça automaticamente, só por gostar do barulho que faz,
Também pensas em sexo quando vais no metro?
mas não tem de ser assim. Mesmo sendo tão novinho, na idade e na experiência, na vivência também, já que falamos disso e a vida não é só sexo (não?). Parvoíce. Os homens nunca são demasiado novos ou velhos para nós. Nós é que somos demasiado novas ou velhas para eles. Às vezes, mesmo quando temos a mesma idade.
Menos mal, pensava que era só eu.
O barulho do computador a apagar o lixo, um barulho límpido e catártico, de armários vazios e estantes desocupadas, de mala à porta e bilhete de ida, pronta para começar do zero, em tudo, na vida, na amizade, no sexo, já que falamos disso e a vida afinal também é (muito) sexo.
Então e diz-me lá, sou boa na cama ou não?

0 Kommentare:

Kommentar veröffentlichen

Abonnieren Kommentare zum Post [Atom]

<< Startseite