7.3.07

As crianças com super poderes

Fumava o meu cigarro na varanda de um pátio alemão cheio de portas e portinholas, jardins indefinidos, tristes e abandonados, barraquinhas sorumbáticas e mesas e cadeiras que no Inverno pouco uso têm que não seja o de fazerem salpicar a água que cai do céu. Três crianças brincavam de gorro, cachecol e casaco que lhes agasalhavam os risos. Vi-as chegarem-se à rede que separava um pátio do outro e passarem para o outro lado, pensando que ninguém as via trespassar propriedade alheia. Devia haver um buraco no meio, que já lá estava ou que foram elas que o haviam aberto noutro dia, mas do sítio de onde eu estava só via uma árvore, por detrás da qual as crianças apareciam depois de atravessarem a rede como que por artes mágicas. Se me chegasse para o lado, podia ver o buraco criminoso, mas preferi pensar nelas como crianças com super poderes, que passavam para o outro pátio através da rede e não por baixo dela, uma vez para cá, outra vez para lá, muitas vezes. Observei-as, deslumbrada, até o cigarro acabar. Depois fui para dentro e tentei fazer o mesmo com o resto da tarde. Passar através dela sem a sentir e, como uma criança com super poderes, chegar à noite e adormecer no segundo imediatamente a seguir após o aconchegar dos lençóis aos sonhos cor-de-rosa.
Juro que tentei.

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