15.2.07

Profissão: Mãe Solteira

Uma vez conheci um Desempregado alemão. Perguntei-lhe assim, o que é que fazes, e ele respondeu-me assim, sou Desempregado. Vi a maiúscula a sair-lhe dos lábios e o assunto ficou arrumado. Estávamos num bar fashion do Bairro Alto, ele estava em Portugal de férias e no dia seguinte ia alugar um carro à Europcar para andar a viajar pelo país durante 12 dias. Doze.

No outro dia conheci uma Mãe Solteira Desempregada alemã. Perguntei-lhe assim, o que é que fazes, e ela respondeu assim, sou Mãe Solteira Desempregada. Vi a primeira maiúscula a sair-lhe dos lábios e tive de me desviar para que a segunda não me acertasse. Esqueci-me da terceira e foi mesmo no meio da testa.

Eu: no último fim-de-semana do mês nunca tenho dinheiro. A situação é um bocado desenxabida porque me mato a trabalhar. De qualquer modo, no último fim-de-semana do mês fico em casa, leio e tal, e digo a toda a gente que já tenho cenas combinadas com um amigo que ninguém conhece. O nome do amigo muda todos os meses, porque nem a mentir sou boa, e por isso toda a gente pensa que eu tenho muitos amigos. Vou disfarçando como posso.
É claro que se vivesse às custas da Tia Angela, a esta hora não estaria aqui. Estaria numa praia paradisíaca em Tuvalu. Eu e o meu filhote a fazer castelos na areia. Menino ou menina, que o Centro de Emprego não é esquisito.

Descobri, há coisa de meses, que ter um filho no pecado seria o fim de todas as minhas preocupações financeiras. Os subsídios acumular-se-iam mais do que o pó cá de casa. O filho estaria no infantário o dia todo, infantário este pago pela Tia querida, e eu teria as tardes livres para me encontrar com outras mães e trocar nomes de marcas de fraldas. Daquelas que deixam o cuzinho das crianças respirar e não assam. Teria 21 dias de férias por ano e nenhuma vontade de arranjar emprego, porque, apesar de me aborrecer durante o dia e ter de dispôr a roupa no estendal às cores para não deixar morrer o meu espírito criativo, nunca arranjaria um emprego a sério em que ganhasse tão bem como sendo Mãe Solteira Desempregada.

A gaja que eu conheci ganhava 1800 euros por mês. Eu não sei se isso é realmente possível, se ela estava a falar em brutos ou líquidos ou se estava simplesmente a gozar com a minha cara de 9-às-21-com-umas-horas-extra-pelo-caminho-e-um-ordenado-miserável. De qualquer maneira, depois disso conheci outro Desempregado que recebia 2226 euros de subsídios. Nem sequer lhe perguntei se eram brutos ou líquidos. Achei irrelevante e o número redondamente escandaloso.

Não vou estar para aqui com discursos salazaristas de que anda uma pessoa a descontar para os parasitas da sociedade. Nada disso. Mas é que hoje saí-me com mais outra de “mas quando é que eu me despeço desta porra” e interrompi o trabalho temporariamente para rascunhar umas contas no papel. Ora bem, quantos amigos coloridos é que eu tenho? Pus o papel timbrado no bolso e vim para casa com novas perspectivas de vida.

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