19.1.07

O furacão

Não fiando, ontem não arejei a casa.

Desde que se soube, o mundo na quarta à noite, eu ontem de manhã, que um furacão com nome de criança árabe vinha por aí a alta velocidade, a cidade entrou em parafuso. Às 4 em ponto, hora prevista para a chegada da primeira aragem, começam a fechar as lojas, o governo aparece em conferências de imprensa e manda os funcionários públicos, alunos e estudantes para casa. Os profissionais liberais também podem fechar o estaminé mais cedo. Os que trabalham em instituições privadas são os que se lixam sempre.

Às quatro em ponto saio do trabalho, não porque me mandassem para casa mais cedo, mas porque é a minha hora normal de sair. Nem um minuto a menos, por isso também não a mais. Atravesso a praça e decido fechar o guarda-chuva antes de o abrir. Já o terceiro só este Inverno. Entro no café – o único aberto e vazio -, peço um galão e um pastel de nata e espero pelas 16:10. A senhora chega e avisa logo que não pode ficar muito tempo porque o vendaval não tarda nada está aí. Rio-me e chamo-lhe alarmista, alarmada (quando ela vai à casa-de-banho e não me ouve). Acho piada a esta gente. Furacões na Alemanha. Orkan. Orca. Uma baleia assassina que cai do céu e nos esmaga a todos.

Telefonaram-me do curso de ioga. Foi cancelado devido às condições climatéricas. Ainda discuto. Se me devolvem uma quarta parte da prestação mensal, tenho a toalha na mala e tenciono ir. Não devolvem. Tenta-se sempre.

Então e ele morreu de quê? De furacão. Morrer de furacão não é nada romântico. Morrer não é romântico. Só nos filmes. E a vida real assusta-se perante a possibilidade de ver o telhado fugir a meio da noite. Eu convenço-me de que estamos na Europa, de que essas coisas aqui não acontecem. Mas acabo por vir para casa. O país inteiro está a contagiar-me o medo.

Deixara a janela aberta. Por pouco não ficava sem ela. A brisa começou quando vinha de metro. Eram cinco horas e já o país inteiro estava em casa. Eu cá acho que não vai acontecer nenhuma calamidade. Acho que não aconteceu, mas ainda não li os jornais. Só tenho pena do senhor que levou com uma árvore em cima. Agora estou a falar a sério.

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