Memórias de uma ausência I
Triologia
Antes do jantar, passeio pela casa. Pelas bugigangas em cima das cómodas, os quadros de feira nas paredes, as fotografias das primas da França por cima da lareira. Nunca gostei delas, nem das primas, nem das fotografias. Agora já se casaram, este ano tiveram um filho. Uma ou outra, já não sei qual das duas me passou à frente, segundo a minha mãe, que isso a mim não me provoca desarranjos gástricos.
A casa dos meus pais está decorada como eu nunca a decoraria. Um amontoar de fotografias de crianças que hoje em dia já são adultos, de bebés que hoje em dia já têm acne, de casamentos que já se desfizeram, do meu avô que já morreu, de mim, de mim, de mim, ainda de mim com aquele fato de treino verde e amarelo, eu gostava tanto dele e a minha mãe nunca me soube dizer que era foleiro.
Ainda tenho a minha gaveta na cómoda do hall de entrada como a deixei, cheia de papéis que nunca mais voltei a ler, bilhetes que não sei se se podem ler, ali à mão de semear, eu sempre fui muito descuidada com os segredos que um dia iria esquecer. Dos outros não guardo nada que se possa encontrar. Pelo menos não à entrada de casa.
No cimo dos papéis, as chaves de casa e as do carro. Ainda o porta-chaves que trouxe de Berlim quando pensava não voltar mais. Olhava para ele e pensava
Berlim, Berlim
mas não sabia que um dia me iria fazer falta um porta-chaves de Lisboa para olhar para ele e pensar
Lisboa Lisboa
e não saber que voltar dói tanto.
Antes do jantar, passeio pela casa. Pelas bugigangas em cima das cómodas, os quadros de feira nas paredes, as fotografias das primas da França por cima da lareira. Nunca gostei delas, nem das primas, nem das fotografias. Agora já se casaram, este ano tiveram um filho. Uma ou outra, já não sei qual das duas me passou à frente, segundo a minha mãe, que isso a mim não me provoca desarranjos gástricos.
A casa dos meus pais está decorada como eu nunca a decoraria. Um amontoar de fotografias de crianças que hoje em dia já são adultos, de bebés que hoje em dia já têm acne, de casamentos que já se desfizeram, do meu avô que já morreu, de mim, de mim, de mim, ainda de mim com aquele fato de treino verde e amarelo, eu gostava tanto dele e a minha mãe nunca me soube dizer que era foleiro.
Ainda tenho a minha gaveta na cómoda do hall de entrada como a deixei, cheia de papéis que nunca mais voltei a ler, bilhetes que não sei se se podem ler, ali à mão de semear, eu sempre fui muito descuidada com os segredos que um dia iria esquecer. Dos outros não guardo nada que se possa encontrar. Pelo menos não à entrada de casa.
No cimo dos papéis, as chaves de casa e as do carro. Ainda o porta-chaves que trouxe de Berlim quando pensava não voltar mais. Olhava para ele e pensava
Berlim, Berlim
mas não sabia que um dia me iria fazer falta um porta-chaves de Lisboa para olhar para ele e pensar
Lisboa Lisboa
e não saber que voltar dói tanto.
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