7.12.06

Little Miss Sunshine

Eu não escrevo sobre filmes. Não escrevo, porque não sei. Contento-me em ir ao cinema e no fim dizer se gostei ou não. Deixo as críticas para quem gosta de esmiuçar um filme, de comparar este com o resto da obra do realizador, o trabalho deste ou daquele actor, a forma de filmar e todas as outras coisas que não vou chamar pelo nome próprio porque simplesmente não estou para isso. Não que não saiba, mas porque agora não me apetece.
Da única vez que tive de escrever sobre um filme foram logo três. Podia ter-me ficado por um, mas não. A ganância, ora bem, resultou na ingestão de uns litros consideráveis de vinho tinto num espaço reduzido de tempo. Estive no limiar da loucura, no limbo do alcoolismo, já estava a ver-me a perder o emprego, a ser despejada e a ter de ir para o metro vender a Motz. Felizmente corrigi-me a tempo e decidi almejar apenas um piroso mediano com estilo. Não um piroso mediano só, mas um piroso mediano com estilo. Toda a gente ficou satisfeita e hoje em dia só bebo em sociedade.

No entanto, e arriscando-me a ter uma recaída, já que tenho sempre uma vinhaça de reserva, podia começar por dizer como quis ver o filme logo assim que vi a apresentação, nesse Verão longínquo. Achei especialmente piada à cena em que o pai diz à família:
- Façam de conta que são normais.
Esteve bem. É daquelas coisas que também eu gostava de ter podido dizer à minha família no Natal de 2002 (com margem de erro de um ano) em que ia começar tudo à porrada, o meu tio pega na garrafa de licor Beirão, eleva-a no ar em direcção ao meu outro tio, que toda a gente teima em dizer que é meu padrinho, mas eu não me lembro de ele alguma vez me ter dado uma prenda de jeito, no exacto momento em que apareceu a vizinha da rua de trás, a Dona Ermelinda, se não me falha a memória, de bigode nas beiças como era seu costume, e:
-Ó prima, venha daí que o padre já subiu o morro.
Foi constrangedor. No mínimo. Bastante. Eu consegui escapar ilesa, não voou nenhum objecto não identificado por cima da minha cabeça, dois Natais depois já era uma pessoa normal outra vez, mas a minha avó é que, depois desta palhaçada toda, acabou por não ir à missa do Galo. Para o ano há mais, avó! Ai os meus filhos que me desgraçam! Para o ano há mais, avó! Ai minha rica vida! Mas o que é que vossemecê quer com um padre gay? Deixe lá a missa. E na semana seguinte houve conversa suficiente para tecer camisolas de lã para a vizinhança toda do bairro. Não pela homossexualidade do padre que isso fui eu que inventei agora mesmo. Adiante.

Pois este filme é sobre famílias. A minha família, a tua família, uma família qualquer que não se assemelhe a uma mera coincidência. Exagero para aqui, exagero para ali, e às tantas já a carrinha entra no jogo e faz das dela em plena auto-estrada. E foi aqui que eu me ri a sério. Ri-me tanto que juro que chorei. E já quando toda a gente se tinha acalmado mas a carrinha continuava a buzinar, com uma elegância que só ela, eu continuava a rir-me a rir-me a rir-me até que alguém me acotovelou a alegria e eu lá tive de tapar o riso com a vergonha. Pois é, eu acho piada a estas coisas.

De modos que, este filme não é daquelas comédias românticas da treta que forçam a piada, mas nem conseguem disfarçar a falta dela. Este filme é uma comédia-qualquer-coisa que tenta disfarçar a piada com uma humildade graciosa. E podia acabar por dizer que uma Olive de calções e botas vermelhas à cáubóia parece mesmo a abelha Maia. Mas deixo as críticas a sério para quem de direito. Eu cá gostei muito.

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