10.11.06

Prólogo

É sexta-feira de um dia qualquer. O escuro de cinco dias de trabalho ilumina-se de fim-de-semana. Os eléctricos que passam no Hackescher Markt já levam as luzes acesas, são apenas cinco da tarde. A esta hora, mais pessoas nos cafés do que nas ruas, os casacos que se despem, o Outono que fica à borda da chávena de Milchkaffee. Um homem moreno sentado ao balcão do Gorki Park olha, curioso. O jornal aberto na página para os cinéfilos de corrida, o cigarro que espera, impaciente, inclinado no cinzeiro. Olhos que se desviam quando a porta se abre para o frio da tarde.
Às seis elas já esperam no banco da estação de metro. Uma cara conhecida, outra reencontrada. Que fazes por Berlim. Que engraçado, conheci-te nesta mesma cidade há quatro anos atrás. Cinco. E ficaste desde então. Não, voltei. É sempre melhor quando se volta.
Numa noite ao acaso num sótão de um bar cheio de gente que finge não ser solitária, a conversa acaba com um copo cheio de momentos para chegar e partir, de pés, uns no berço e outros no destino. Depois de três anos já a novidade deixa de o ser. A cidade começa a adquirir a garantia dos pronomes possessivos. E Lisboa? Lisboa é linda. Mas Berlim não se explica.
Às dez da noite aconchegamos o frio nos casacos. A hora chega com outros planos para os rostos que se despedem. Foi bom ter-te reencontrado. Às vezes penso se o mundo não será realmente pequeno. Sorrisos.
A Oranienburger Strasse divaga as pessoas que a percorrem, amantes de mãos dadas e turistas com rumos de guias turísticos, prostitutas de corpetes brancos seduzem machos desprevenidos, a Sinagoga vigia polícias enfastiados. O libanês do fim da rua enche-se de Lebenskünstler, artistas da vida que consolam o estômago por três euros. Ao fundo, a Fernsehturm, a versão light de um big brother imaginário. Faltam dez minutos para o próximo metro, pouco depois começam a escrever-se crónicas de Berlim. É sexta-feira de uma noite qualquer.


0 Kommentare:

Kommentar veröffentlichen

Abonnieren Kommentare zum Post [Atom]

<< Startseite