14.11.06

Dress Code

Uma das observações típicas sobre a aparência dos alemães recai na despreocupação com a apresentação pessoal. Não é raro ouvir dizer de franceses, italianos e portugueses que os alemães se vestem mal, são desleixados e mesmo pouco asseados. Como exemplos mais imediatos, temos o cliché da meia branca com sandálias e o sovaco feminino que não é depilado. É verdade, o alemão da classe média não gosta de ter o pé ao léu e mulheres peludas proliferam nos ginásios mais sofisticados. Mas quanto às acusações de falta de higiene ou desleixo já serão as más línguas a falar. Ou tiveram muito azar e apanharam mais do que seis mendigos no metro ou são povos cujas nações actuais pouco podem acrescentar à deutsche Technologie e que não entendem que um país que tem um tempo de merda não pode andar empinocado nos dias de degelo, em que andar na rua e não sujar mais do que 10 centímetros da bainha é uma autêntica aventura. No Verão, o calor chega a ser insuportável e é perfeitamente normal que os milhares de ciclistas que atravessam a cidade diariamente cheirem um pouco mal ao fim do dia. Além disso, não se deve esquecer o peso da palavra gemütlich (acolhedor, numa tradução paupérrima). Há que andar confortável, se possível com a mesma roupa durante vários dias, porque isto de ir à lavandaria todas as semanas tem o que se lhe diga. Por outras palavras, os alemães são um povo de costumes práticos. Esqueçamos o fanatismo da burocracia e da organização por uns momentos.

Três anos depois, uma portuguesa habitua-se a ir a uma discoteca e não se vestir para o engate. Os alemães engatam tão subtilmente que nem o decote mais profundo exerce o fascínio que em países do sul da Europa chega a ser enfastiante. Aliás, o caso alemão chega a ser tão grave que pode originar profundas crises existenciais em mulheres latinas, mas isto fica para uma outra crónica. No seio da faixa indie, o mote é arranjar-se de modo a que pareça desleixe. Uma miúda mal vestida pode perfeitamente ter passado horas em frente ao espelho até criar a aparência desejada. Mas a grande maioria das pessoas sai à noite com a roupa com que andou durante o dia, seja lá ela qual for. E isso é o espírito da descontracção.

Eis quando um convite da Embaixada de Portugal espera na caixa do correio. Dá-se uma vista de olhos ao interessante programa do simpósio no Museu de História Alemã e sacode-se imediatamente da ideia a remota possibilidade de poder ir de ténis a semelhante evento cheio de portugueses horrorizados pela indumentária alheia. Um relance ao roupeiro chega, no entanto, para atirar o convite para o lixo.
Pindérica, és uma pindérica.

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