23.11.06

A intimidade do peido

O filme
Apesar de disfarçar clichés da sociedade moderna, The Last Kiss dá que pensar. Sobre o valor da amizade, sobre o medo de uma vida sem surpresas, sobre as dúvidas no amor, sobre os 30 anos não reflectirem os sonhos dos 15. Mas mais do que isso, este filme dá que pensar sobre a intimidade entre duas pessoas. Melhor dizendo, sobre o grau máximo de intimidade entre um casal. Mais concretamente, até onde se pode ir quando rapar os sovacos à frente do namorado se torna tão banal que até já nem é preciso esconder a gillette?

A cena
Quando Jenna lhe pede que conte o que tem andado a sufocar dentro de si e Michael manda um sonoro e aromático peido, é como se ele nos gritasse, mais alto do que o seu próprio traque, “Estão a ver, estão a ver, isto é o auge da intimidade!”. Como manda a regra, ela barafustou e disse “Ah, seu porco!”, mas o espectador sabe que ela até nem se importou muito com o sucedido, afinal são coisas do corpo, Jenna loves Michael e, não fosse o cheiro, pouca diferença haveria entre um arroto e um peido. São ambos sonoros, saem ambos de orifícios com ligação óbvia, sem entrar num, não sai do outro, e o que entra, acaba eventualmente por sair, quer queiramos, quer não, por isso não vale a pena esconder a verdade por entre manhas politicamente correctas. Quem disser que não gosta de se peidar, mente. Nem é uma questão de se gostar, é mesmo uma necessidade básica, animal, de aliviar o corpo de excessos. Ou há lá coisa melhor do que chegar a casa e tirar os sapatos?

A sabedoria popular
Uma das grandes preocupações dos casais modernos em que um deles sofre patologicamente de distúrbios gastro-intestinais, é mesmo o facto de ter de passar o resto da vida a conter-se ou então, no intervalo da novela, ir a correr para a casa-de-banho, esconder-se atrás da porta e rezar para que seja só uma bufa. Pois claro. Peido, que é peido, tem vontade própria. Não adianta escolher posição, pôr a mão atrás, dar ao autoclismo no momento de. Como diria o provérbio, peido contido, ruído assegurado.

Os factos
Um casal de Brandemburgo, ele alemão, ela portuguesa, daqueles casos de amor verdadeiro que só metem raiva, puseram os seus sentimentos à prova poucos dias antes do casamento quando se fecharam no carro e 1... 2... 3... desataram aos peidos. Vá, tu consegues. Ai, não sei. Então, não custa assim tanto, afinal não sobrou nada da feijoada que a minha mãe te fez, não acredito que não te consigas peidar. E ele lá conseguiu. Ela, ao sentir o cheiro, tentou não se rir, não lhe chamar nomes, não abrir a janela. Antes, inalou o cheiro como se do ar fresco da serra se tratasse. Assim estiveram, ora ele, ora ela, até se habituarem ao cheiro um do outro e consentirem em casar mesmo assim, depois de terem descido mais baixo do que às caves do vinho do Porto. Ora isto é bonito. Mas não é o ponto máximo da intimidade. Não, não é. A intimidade, a sra. Intimidade, quando já é tão grande que se crescer mais sai pelo tecto, atinge o seu ponto máximo durante a pedicure. É verdade. Especialmente se ele tem pés peludos e dedos tortos. Uma mulher que se ofereça para cortar as unhas do pés a um homem destes, ou a qualquer outro homem, é uma valente e, além do mais, ama como se ama inconsequentemente.
Depois disto, meus caros, não há peido nem arroto nem fetiches sexuais nem manchas no passado que assustem. Depois disto, meus amigos, está tudo fodido. Parece-me mesmo que depois disto não há mais nada.

0 Kommentare:

Kommentar veröffentlichen

Abonnieren Kommentare zum Post [Atom]

<< Startseite