17.6.07

This is only about me kind of post

Não tenho paciência para pessoas que pensam que o mundo, o meu e o dos outros, que o egoísmo não tem limites, gira à sua volta. Enervam-me, cansam-me, esgotam-me. Por isso armei-me em personagem Six Feet Under e pedi a conta à empregada. Não. Se fosse uma verdadeira personagem Six Feet Under ter-me-ia levantado da mesa e saído sem pagar, mas há coisas que só nos filmes. Como que insistindo ele em pagar a conta
- Não tinhas de fazer isso, sabias?
- Vieste aqui por causa de mim, era o mínimo.
- Ah. Pois se de todas as vezes que quisesses estar comigo, me pagasses, please, be with me!
E depois começou com uma treta de que não gosta de ter dinheiro e o blá blá blá de quem é um bocado parvo. Quem me dera ter dinheiro! Ter dinheiro é bom! Por favor, dá-me uma parte do teu dinheiro!
Bolas, que há gente mesmo estúpida.

Com a verdade me enganas: ando mesmo a comportar-me como uma personagem Six Feet Under. Nate, Claire, David, Ruth. Um pouco de todos ou todos ao mesmo tempo, que as emoções são muitas. Não que me queira estar para aqui a armar (aos cucos como dizem.. e o que é que isto quer dizer??), mas estou a dar numa de incoerente-paranóico-obsessivo-compulsivo-atrasada mental-cobarde-paranóico-já disse isto-kind-of-crap. Chego a casa às horas que forem e recuso-me a encher mais caixas, a esvaziar as estantes, a despir as paredes, as gavetas, os armários (ok, aqui era para vir um singular). Não me esteja a recusar a nada (nãoooo), mas porque já sei como funciono: à última, o stress todo para o fim que é para parecer menor. É por isso que tenho chegado a casa, seja a que horas forem, e me tenho posto a ver – rever – a última época da, provavelmente, melhor série do mundo. Os últimos 20 segundos do penúltimo episódio aí umas dez vezes – seguidas – e o último episódo aí umas já nem sei vezes. Cem? Choro e berro como se fosse a primeira vez – a da surpresa, a do encanto, a do foda-se, isto é mesmo bom vez - e volto atrás. Continuo a chorar até que me doam os olhos e as pestanas se colem e tenha de ir meter a cabeça debaixo da torneira para ver se acordo. Aproveitar ainda e bater com ela na gaja – a torneira – umas quantas vezes e dizer
Acorda, estúpida. Faz-te à vida. Deixa de ter tanto medo do que é bom.

Aquele telefonema é que me estragou o esquema todo. Não era suposto telefonarem-me a esta altura do campeonato. A tal ironia filha da puta que tinha de vir que é para as coisas terem mais piada. Nem perguntei de qual agência era, de que hotel, se me telefonavam das Highlands, das montanhas no meio do sol da meia-noite. Fuck. Não quis saber. Fuck. É melhor assim, não saber. Para não ficar a matutar no que não tem remédio porque eu até sou uma pessoa coerente (er...). E o que é que isto tem a ver? Tem a ver que, ou se calhar não tem a ver com nada, a minha casa continua cheia de tralha, tirando uma dúzia de cds a menos (só me faltam uns 500) e duas dúzias de livros a menos (só me faltam uns 200), mas como hoje me disseram que eu tinha uma estrelinha (suponho que a guiar-me o caminho), eu prefiro acreditar nisso e não mexer o cú da cama. A Virgem que corra por mim que eu até este texto o escrevo na cama. Porque a mesa da cozinha já a vêm buscar amanhã e quero habituar-me a técnicas alternativas. Não estou a ser preguiçosa nem estou no auge do meu actual estado de resignação (há quem lhe chame realismo cobarde – como???). Nada disso. É só porque sim. Porque hoje, depois de uma noite com um grande amigo e uma garrafa inteira de Ginja e um dia com uma grande amiga numa cidade alemã pitoresca (apeteceu-nos assim mesmo, apesar da chuva – e depois até fez sol, vejam lá a caga), acabei o dia num café de arcada a tentar socorrer a alma aflita de outro grande amigo (grande de alto) que quer à viva força ser mais do que amigo (há gente sem sorte na vida) e a acabar a gritar desesperadamente por ajuda a quem passava na rua, tentando fazer-lhe ver que há coisas assim de simples, um não que é um não e um sim que é um sim. Nunca talvez. E depois dizem que as mulheres é que são complicadas. E foi aqui que me pareci a um qualquer deles, aos grandes, aos mortos, Nate, Claire, David, Ruth, quando imaginei que lhe espetava com a colher do café no coração com a raiva de uma mulher traída. Não que alguém me tenha traído, mas uma mulher traída guarda rancor com a força de uma colher de café espetada no coração de um gajo chato. É mais ou menos assim que tem funcionado a minha imaginação nestes dias. E depois de ter gritado e esfaqueado (escolherado?) quem me estava a importunar
- No, this is not about you!
desci as escadas do metro e fiz reset. Chegando a casa, voltei a pôr o dvd. Só mais uma vez. Para secar os sacos lacrimais e evitar descompor-me na despedida. Não dava jeito nenhum esborratar a pintura.
(Por falar nisso, lembrar-me de atirar as sombras dos olhos para o lixo. É daquelas coisas que não sei porque é que tenho. Como tudo o que vou começar a vender/dar/deitar fora amanhã. Riscar o que não interessa.)

Ando feita numa narcisista-mete-nojo. Este post saiu mais auto-something do que eu queria. Mas, temos pena, this is only about me.

1 Kommentare:

Blogger blindness meinte...

Sim, percebo. Até porque Six Feet Under is only about ourselves. Mais ninguém. Ainda assim pensei que apenas eu tinha secado os sacos lacrimais com aquele final. Pelos vistos não. Não sei se fico, ou não, contente com a descoberta. Mas, afinal, também não interessa. This post is not about me.

2:29 PM  

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