18.2.07

Querido Diário (a espera)

Este fim-de-semana vi dois filmes a preto e branco. Também vi alguns episódios do Lost. Começo a ficar viciada. Tento não ver tudo de seguida para ter algo por que esperar. Fui ver uma exposição de fotografia, fui ouvir The Good the Bad and the Queen durante uma hora nos auscultadores da Dussmann. Não comprei logo porque estou à espera de Arcade Fire. Fui tomar café com uma amiga, fui tomar café sozinha, fui almoçar fora. Não saí à noite, não me apeteceu. Depois quase que me senti triste. Acabei um livro, comecei outro. Tinha feito uma lista dos livros para ler até começar o Ulisses, lista esta que tenho seguido escrupulosamente. Espanta-me a minha disciplina. Daqui a duas semanas vou pegar no Ulisses a sério. Vou abri-lo e começar a ler. Podia fazê-lo já, mas prefiro esperar. Este fim-de-semana também fui à biblioteca Americana pela primeira vez. Tantos livros que quero ler, uma secção inteira dedicada à Escandinávia, muitos sons e dóttirs que terão de esperar. Não me inscrevi porque me apercebi no lobby de que ando sem identificação na carteira há dois meses, que o meu BI já está pronto desde Janeiro, mas que ainda não o fui buscar para não ver República Federal da Alemanha escrito onde devia estar escrito Portugal. Faz-me impressão. Fi-lo para poder votar para o meu país e o meu país nem sequer me deixou votar. Fez-me impressão. Na terça vou buscá-lo. Até lá espero. Depois de terça vou continuar à espera. Dias que se colam a noites que se colam a tardes que se colam a manhãs. E eu continuo à espera. De tudo e de nada. Mas mais de tudo do que de nada. Espero eu.
Hoje está sol. Vou passar o dia a ouvir The Smiths, a ver mais dois episódios do Lost. Talvez vá tomar café, talvez vá ao supermercado. Depois não sei. Talvez continue à espera. Os meus amigos perguntam-me o que tenho. Eu respondo que estou cansada e é verdade. Cansada de esperar, cansada desta merda toda, de passar a semana a trabalhar, de passar domingos inteiros a preparar aulas de 90 minutos, mas os 90 minutos passam num instante e os domingos são sempre tão longos. Hoje não vou preparar aula nenhuma. Não me apetece.
Há mais 10 domingos até Maio. No primeiro domingo de Maio faço anos. Não sei o que vou fazer. Não gosto de fazer anos aos domingos, não gosto de domingos. Talvez me embebede no sábado e passe o domingo de ressaca, a dormir e a vomitar até acordar mais velha na segunda-feira. Depois desse primeiro domingo virá o medo a sério. O medo de que tudo fique na mesma e o medo de que tudo mude. Tenho medo das mudanças que não são causadas por um impulso. Pensar nas coisas dá muito trabalho. Pensar nas coisas sozinha dá mais trabalho ainda.
Tenho medo desta espera. Mas por enquanto é a única coisa que tenho. Só mais 10 domingos.

1 Kommentare:

Anonymous Anonym meinte...

o desepero do pensar cria o fosso do incógnito

catcarrao

6:18 PM  

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